Herança cultural

No Cabobu, Pelotas respira ancestralidade negra

Terceira edição do festival retomou herança do tambor de sopapo criado pelos negros escravizados de Pelotas

Foto: Italo Santos - DP - Mais de cinco mil pessoas acompanharam a programação do Cabobu

Por três dias, Pelotas respirou a ancestralidade de sua formação negra durante a terceira edição do Festival Cabobu. Vinte e três anos depois da segunda edição, o evento retomou a exaltação do tambor de sopapo, instrumento típico criado pela população negra escravizada ainda no século 19 e que simboliza a resistência e a história de um povo.

Ao longo da sexta, do sábado e do domingo, o festival proporcionou uma programação extensa, que contou com palestras, mesas de debate, oficinas e apresentações artísticas em dois palcos. No ritmo da percussão, a cidade pulsou uma celebração de uma história que luta para não ser apagada.

A estimativa da organização é de que mais de cinco mil pessoas passaram pelos dois palcos ao longo do feriado e final de semana. No palco Giba Giba, no Largo Edmar Fetter, do Mercado Público, passaram diversos artistas, como Kako Xavier, Ialodê, Rafuagi, 50 Tons de Pretas e Xavabanda. Já o Palco da Diversidade, na praça Cel. Pedro Osório, recebeu apresentações e animou a Feira Preta Helena do Sul, que disponibilizou produtos feitos por 32 expositoras negras e indígenas.

Já a sede da Secretaria Municipal de Cultura (Secult) recebeu exposições artísticas, com obras de Zé Darci, fotografias de Luis Ferreira e a exposição Giba Giba - O guardião do sopapo, primeira mostra sobre um artista negro do Museu Julio de Castilhos, de Porto Alegre. A secretaria também recebeu cinco oficinas sobre os tambores, compartilhando o conhecimento na execução, história e fabricação dos instrumentos para mais de 300 pessoas. Durante as manhãs, a Bibliotheca Pública Pelotense recebeu um ciclo de conversas sobre raça, gênero e políticas públicas, com debatedores de diversas origens étnicas e culturais, com cerca de mil espectadores.

Legado de um mestre
Idealizado por Giba Giba no final do século passado, o Cabobu buscava ressuscitar a importância do tambor, que vinha sendo esquecida da história e da cultura pelotense. Hoje, a Festa dos Tambores celebra o legado e as raízes deixadas pelo mestre, que se espalharam e cresceram, criando uma tradição em torno do sopapo, que atravessa arte, religiosidade, história e ancestralidade.

Herdeiro direto desse legado, Edu Nascimento, filho de Giba Giba, falecido em 2014, foi um dos idealizadores e organizadores dessa terceira edição, gestada ao longo dos últimos três anos. Ao final do Cabobu, Edu comemorou o resultado, que transpareceu no brilho dos olhos de quem ouve e assiste, encantado, o som da música de origem negra.

Nascimento relembrou que a ideia inicial do Cabobu surgiu em 1995, quando Giba Giba percebeu que o sopapo estava se tornando um instrumento desconhecido, apagando a matriz cultural de Pelotas. “Como que a gente vai fazer um show na terra do sopapo e as pessoas não sabem o que é? Ele sempre pensava dez, 20 anos para frente. Então estava na hora de realizar um espetáculo e foi homenagear dois grandes tamboreiros e outro grande mestre, o Cacaio, o Boto e o Bucha, que dão o nome Cabobu, que foi realizado em 1999 e 2000”, relembra.

Na época, 40 sopapos foram feitos para serem espalhados por diversas cidades, perpetuando o instrumento como uma referência percussiva. “Não é só um tambor, é a cultura local de cada lugar que está dentro do projeto. O tambor se torna o protagonista dessa ideia porque daí vem dança, vem música, vêm ideias, vêm fragmentos de todas as partes da sociedade. Então o sopapo é um símbolo agregador”, avalia.

Junto de toda a programação, o Cabobu foi também uma oportunidade de homenagear personalidades que também foram centrais para o festival em sua origem, como a mestra griô Sirley Amaro, o Mestre Baptista, mestre Carloca e o percussionista Djalma Corrêa, falecido no final do ano passado. ​

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